sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Prece


Sem saber se dá ou não,
Sem requisitar nenhuma atenção,
Eu vou vivendo.
Sofrendo.
Calando os que tentam me calar,
E maltratando os que tentam me acalmar.
Quero viver com ódio,
Amor.
Com vontade de rasgar a pele de quem me fere a alma,
Com vontade de beijar a boca de quem me fere os instintos.
E tão viciante quanto o ópio,
É a minha dor.
Viver assim só é bom,
Quando se consegue.
E não é o que acontece,
Vou levando uma vida muda, sem som.
Esperando mais do que se segue.
Algo parecido com uma prece.
Uma prece que fazemos,
Quando milagres queremos,
Mas melhor seria,
Se os milagres formos nós.

domingo, 25 de outubro de 2009

Bailando na Noite - Evasiva

Obs: Caso você não tenha lido os capítulos anteriores aí segue os links:

1. A vida é dura

2. Ex-família

3. Evasiva

Enquanto Paula ainda estava distraída e agachada rezando, o sangue de Marcos começava a ferver. Seu José apareceu acompanhado de dois seguranças com uma roupa branca, meio suja. Típica de presídio. Um meio sorriso que incitava os punhos do anjo a se cerrarem e pressionarem as articulações com toda a força tomava todo o rosto do, agora, facínora. O pai da bailarina se aproximava lentamente enquanto Marcos apressava o passo.

Enquanto o anjo protetor sussurrava no ouvido de Paula que o seu pai agora se aproximava, os seguranças se retiraram em direção ao portão principal.

- Você só tem vinte minutos. – Com uma voz boçal, um dos seguranças disse com firmeza encarando seu José. Por um segundo inteiro o coração de Paula bateu sessenta vezes. Algo inexplicável. As palavras que seu protetor proferia em seu ouvido não faziam sentido algum. Seu rosto começara a ficar de cor vermelha. As mãos começaram a tremer juntamente com as pernas. Seus olhos encontraram um horizonte longínquo demais para ser compreendido por seu cérebro. E as lágrimas fluíam rápidas demais para serem contidas pelo dedo indicador de Marcos. Não enxergava nada além do ódio em seu coração.

Como um impulso, Marcos puxou-a pelo braço com toda sua força e a abraçou contra seu peito. Os olhos de seu José e de Paula se encontraram. Faíscas puderam ser vistas.

- Como ousa aparecer aqui, seu cretino?! – A voz de Marcos nunca pareceu tão cheia de ódio e rancor. A bailarina se acabava, chorando. Era inocente demais para compreender o porquê daquilo tudo. Na verdade ela ainda não tinha entendido que seu pai havia matado sua mãe. Seu pai...

- Vim visitar minha esposa. Algum problema? – Disse seu José com uma ironia evidente demais para não ser percebida. E a raiva começou a ocupar o espaço antes ocupado pela inocência de Paula. Suas mãos começaram a tremer.

- Você poderia ser um pouco humano às vezes. – O anjo encarava o demônio enquanto dizia essas palavras com o maior ódio que ele podia ter de alguém. - Será que não pode dar um minuto de descanso a.. Sua... Filha?! – A última palavra soou com um certo eco, na cabeça da bailarina. E ficou em seu subconsciente. Filha. Filha. Filha.

- Eu não sou filha desse delinqüente. – Disse a dançarina, entre os soluços do choro. Enquanto falava o sorriso de seu José foi mais alto que sua fala.

- O que eu devo a vocês já está sendo pago na penitenciária. Posso rezar um pouco agora?! – Disse o facínora enquanto se aproximava do túmulo. O corpo de Paula começava a ficar trêmulo e fora do seu controle. Ela começou a apertar forte o braço de Marcos.

- Você me deve minha mãe, seu desgraçado. Quero saber quando que vai trazer isso de volta a mim. Quando... – Disse com a cabeça baixa, a bailarina, enquanto as lágrimas encharcavam seus pés.

- Talvez eu possa trazer. Ou melhor, te levar até ela. – Riu alto, novamente – Se seu anjinho da guarda não se importar. – Encarou Marcos, enquanto falava isso. Seus olhos perfuravam toda a paciência do até então detentor dela. – Não seria trabalhoso terminar o serviço e acabar com a família.

Dois segundos. Foi o tempo suficiente para Marcos saltar e acertar dois socos em cheio, um no olho direito e outro na parte esquerda superior do abdome do facínora. Sua mão direita cheia de sangue, devido ao supercílio de José que, agora, sangrava muito, foi segurada por Paula. Como que num impulso conjunto ao do anjo ela levantara e só conseguira fazer isso depois dos socos serem devidamente entregues ao pai da balarina.

Seu José se levantou, calmo até demais para a situação, olhou para o rosto cheio de satisfação de Marcos e retirou da meia de uma bota que vestira, um canivete imperceptível demais aos dois gigantes que acompanharam ele até então.

Marcos imediatamente se firmou nos dois pés com toda a força que podia e curvou sua mão em forma de garras, prontas para atacar. Empurrou, com cuidado, a bailarina para trás do seu corpo, defendendo-a.

- Vamos ver se você é tão machão quanto diz que é, seu anjo fajuto. – Disse José deixando explícito demais o nervosismo que, antes, estava bem camuflado.

- Eu poderia até chamar seus amiguinhos para que te levassem de volta. Afinal sua pena seria ainda maior por essa tentativa de homicídio. – O pai da bailarina cuspiu em direção ao rosto de Marcos, mas ele foi mais rápido que o líquido asqueroso. – Mas não quero perder a chance de te matar, a legítima defesa está aí para isso.

Antes que ele terminasse por completo sua fala José se aproximou com dois saltos ligeiros e perfurou o ar com o canivete, como se quisesse enfiar em Marcos, mas o vento foi seu alvo, dessa vez. O anjo se desviou com facilidade do facínora, uma facilidade que surpreendeu à Paula e a deixou em um estado de choque ainda mais intenso que o de dois segundos atrás. Durante a evasiva, Marcos pegou com pouca firmeza e por poucos segundos a mão que segurava a arma, mas a soltou devido a força contrária exercida pelo pai da bailarina.

Os quatro olhos negros não deixavam de se focar por um minuto sequer. O ódio se tornava mais intenso e profundo a cada segundo que se passava. Vários foram os movimentos até que algo acontecesse.

- Pare! – Gritou a mesma voz boçal, mais baixa devido a distância, que avisara o tempo que seu José poderia ficar ali.

Os dois seguranças enormes, agora, corriam ainda na entrada do cemitério, para segurar o facínora. Levaria mais tempo do que o que era preciso para mais alguns golpes. Paula cada vez mais chocada não sabia para onde olhar, estava sem foco, como só esteve uma vez na vida, novamente. Era um tumulto muito grande na sua vida que estava tão normal há alguns dias. Estática, era o que ela, realmente, estava. O estado de choque era tremendo que ela não se movera um centímetro desde o começo da briga. Meu pai, e a pessoa que, hoje, é a única que eu verdadeiramente amo brigando em frente a mim e eu não posso fazer, nada. Nada! Irritou-se consigo mesmo a bailarina.

- É agora, desgraçado. – Disse seu José enquanto preparava-se para o que parecia ser o último golpe, e realmente foi. Com toda a força que tinha, pôs-se três passos quase pulados a frente e cravou o canivete, mas dessa vez não fora no ar. Marcos se esquivou, mas esqueceu que o corpo extremamente estático de Paula ainda continuava atrás do seu. Perfurou-a.

- Não! – Foi tudo o que o anjo conseguiu falar, antes que a bailarina desmaiasse a sua frente. Ao redor do corpo, agora, estático e ensangüentado de Paula os dois seguranças já haviam imobilizado o facínora e estavam algemando-o.

Marcos deitou o corpo que tinha em mãos no chão e rapidamente foi à frente de seu José. Deu-lhe dois socos no rosto com toda a força que podia ter. Ossos provavelmente quebrados estalaram mais alto do que deveriam. E os seguranças, por uma questão de respeito até, não fizeram nada. O anjo teve o bom senso de se contentar com mais dois socos.

- Amanhã o senhor pode resolver tudo na delegacia. Registrar as queixas e tudo mais. Esse aqui não vai mais incomodar a sua vida. – O segurança olhou por cima do ombro de Marcos, a bailarina caída no chão e sentiu um remorso que refletiu na agonia de seus olhos. Talvez esse remorso fora provocado pela consciência de que se eles tivessem chegado dez segundos antes, nada teria acontecido – E nem incomodará a vida dela. Sinto muito. – Um aperto de mão sincero e grosseiro fora trocado entre os dois e o anjo agora corria em direção ao corpo imóvel de Paula. Uma perfuração na altura do ombro esquerdo fora feita. A altura idêntica ao peito esquerdo de Marcos. Um golpe pronto para matar.

- Por que. Por que... – Foram as últimas palavras proferidas pelo anjo protetor que agora corria, com a bailarina em seus braços, em direção ao hospital que não era muito longe dali. Pegou um táxi em frente ao cemitério.

- Hospital D’ávila, por favor? – Disse o anjo, com a voz ofegante.

- O que aconteceu?! – Disse o taxista assustado demais com a quantidade de sangue que só não atingia o estofado do seu carro devido a barreira feita pela blusa de frio de Marcos.

- Sem questionamentos, pagarei o dobro por essa viagem. Só quero que vá rápido. – Disse com uma voz nervosa demais.

Tudo foi muito rápido. Paula entrou nos braços de Marcos e logo já foi recebida por dois enfermeiros com uma maca. Hospital particular. Atenção idem. O anjo se ajeitou na recepção enquanto os dois funcionários a levavam para uma sala apropriada. A mulher da recepção apesar de ser muito prestativa estava demorando demais, ou melhor, o anjo queria que ela fosse mais rápido do que ela poderia ser, a relatividade do tempo se evidenciava.

Depois de todos os cadastros e pagamentos feitos, Marcos se dirigiu ao quarto da bailarina, mas foi impedido logo depois dos três primeiros passos.

- O doutor está examinando o caso, não é muito conveniente que você vá à sala agora. – Disse um dos enfermeiros que tinha levado a maca que carregava Paula.

O anjo não questionou. Sentou-se em uma das cadeiras acolchoadas que ali perto estavam e enroscou ambas as mãos em seus cabelos. Se eu não tivesse tentando bancar o heroi, nada disso teria acontecido IMBECIL! Atormentava-se com pensamentos parecidos a este.

Uma hora havia se passado há alguns minutos quando o médico responsável por Paula apareceu. O chão estava rodeado de cabelos soltos. Todos arrancados pela raiva que Marcos estava sentindo de si próprio. Com uma cara não muito boa o médico disse as palavras que massacraram a consciência e a vida do anjo instantaneamente, que agora chorava muito.

- É irremediável?! – Disse Marcos enquanto lágrimas congelavam seu rosto que estava quente demais devido ao estresse.

O médico com uma dor no coração afirmou que sim. Ele podia sentir a angústia no olhar, no jeito de agir do anjo. Era evidente demais para que não fosse compartilhado por qualquer um que pudesse ver seus olhos encolerizados ou suas mãos tremendo compulsivamente. Sinto muito, a partir de meia hora o senhor terá maiores esclarecimentos. Disse em alto e bom som, enquanto se virava e enquanto o mundo de Marcos desabava por completo.

Ps: Não é o último capítulo. Boa leitura.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Surpreender


É ser alguém que agrade,
Que não seja só aquilo que demonstra.
Acima de tudo verdade,
Algo que no meu dicionário,
Junto à surpreendido consta.
É ser mais ou menos assim,
Uma pessoa, irrevogavelmente, entregue a mim.
É ser, de fato, o que esperamos que seja,
Quando realmente não esperamos nada.
E então vira inútil, qualquer, explicação,
É bom, às vezes, seguir o ritmo do coração.
Por isso,
E aquilo outro,
Me surpreenda calada.
Com minha boca, na sua, colada.

Obs: O próximo post será o 3º capítulo do conto Bailando na Noite.
Obs²: Caso não tenha lido o primeiro e o segundo capítulo, aqui seguem os links:

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Romantismo


Que saudade dos tempos que eu não vivi.
Onde tudo era mais romântico e real.
Inveja dos poetas do Romantismo.
Que viveram algo que parecia irracional.
Uma época inundada de verdades, altruísmo.
Viviam pelo que hoje ninguém quer.
Corriam, além de tudo, atrás de uma só mulher.
Mulher desejada, idealizada.
Cobiça de muitos, realidade de poucos.
Ah, bons tempos.
Tempos que as borboletas não tinham problemas para voar.
Tempos que música de tolos, eram trovas feitas aos remos.
Ah, bons tempos.
Novelas de cavalaria se faziam noite e dia.
A vida era nada mais nada menos,

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Waiting For


E nos momentos mais sórdidos do meu subconsciente,
Onde a dor é, durante a eternidade, onipotente,
A lua me remete ao que o sol não me mostra.
Seu retrato, quase sempre, é a resposta.

A mais indecorosa, das minhas vontades, proposta.
Algo que não é meu, nem nosso,
É até mais forte, em mim, a sua escolta,
Algo que nem comigo mesmo posso.

Sonhar ainda me leva a você,
E o amor ainda me faz crer,
Mas a esperança não vai ser a última a morrer,
Mas sim a primeira, a padecer.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ter ou não ter


E eu pensando em pensar em você.
Estupidez ordenar, ao consciente, o óbvio.
Lembranças.
Beijos de ar rarefeito.
Abraços de intensidade imensa.
Fragâncias inesquecíveis.
Eternidades vividas em segundos.
Vontades.
Saudade de algo que não tive.
Mas que só se tem
Quem a si mesmo vive.

domingo, 11 de outubro de 2009

Declaração mal compreendida

O veneno maldito me pegou.
Sofro não por ter me pegado,
Mas por ter vindo errado.
Como posso me envenenar por alguém que não me olha,
Por alguém que me vê como amigo, até mesmo inimigo.
Amor maldito. Benditas sejam
As perfeições imperfeitas acentuadas em seu sorriso sarcástico.
Sei que não o faz por maldade, mas você é irresistível.
Eu corro contra, mas seus olhos são apaixonantes demais para mim.
É impossível não te querer, mesmo que eu não queira, porque sei que não me queres.
É estranho ter que lutar contra o vício da paixão que nunca foi saciado.
Mesmo depois de esperar tanto tempo o desejo do coração.
Minh'alma já não existe mais, mutilou-se de tanto ódio próprio.
Mesmo assim, ainda tenho forças.
Amo-te. Odeio-te.
A segunda parte por não ser minha,
A primeira por ser o que é.
Tola ilusão.
Declaração...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Loucura

A loucura, às vezes, toma conta de mim.
Pensando melhor, sempre.
Nunca.
Não sei!
Será que toma?

domingo, 4 de outubro de 2009

Calor Humano


As águas batem em minhas costas e trazem a mais dura realidade, ali junto de todos e separado do mundo, eu sofro. Sofro por que não acontece nada além disso. Amizades que, pelo visto, não vão durar mais do que um ano letivo. Pessoas que se vêm daqui a quatro meses e não se cumprimentam. Insano. Insuportável. Inacreditável. Faço tudo para agradar a todos e não ando recebendo nada em troca. Eu sei que é estupidez criar expectativa para qualquer pessoa, ainda mais para quem não lhe deve nem satisfação. Mas no fundo eu ainda acredito nas pessoas como seres mutáveis. Para melhor. Bem melhor, espero.

Ps: Foto minha em Rio de Contas - Chapada Diamantina - Bahia. Lugar perfeito.